18.12.14

A sina da cuidadora de asas

Ele aparece.
De asas quebradas...  penas amassadas...
Respirando seus sonhos com dificuldade.
Um pássaro frágil que não sabe o tamanho de sua grandeza.

Ela, a cuidadora de asas, o segura em suas mãos.
Ele não sabe o que o espera, mas sente correr em suas pequenas veias o medo lhe invadir, antecedendo a dor de ter suas asas tocadas.
O mesmo medo que lhe causou suas chagas, o impede de ser cuidado.

E ela o segura em suas mãos. E só.
Sua experiência de tantas asas quebradas a deixou sensível aos vários medos.
Menos os dela: escondidos em um porão escuro, ela os deixa amarelando, acumulando pó e velhas teias.

Ela o segura, mas não o toca de imediato.

Tendo-o em suas mãos, ela oferece carinho, acolhida, colo. Deixando que o tempo e as horas o tornem seguro do que esta por vir. 

Ele sente o conforto de ser cuidado.
Ele permite ser tocado.
Ela o toca.

Os dias passam:  O cuidado, as palavras e o toque da cuidadora de asas já não o assustam mais.

Ele abre as asas.
Mostra sua grandeza, força e beleza.
E avisa que em breve esta curado e pronto pra sentir o vento entre suas lindas penas.

Ela o entende em silencio.
E entre as lágrimas que brotam em seu rosto relembra sua sina: acolher, curar e deixar ir.
Pássaros não foram feitos pra gaiolas.

2.8.14

Ou soma, ou some.

Essa semana um amigo me perguntou por que esta cada vez mais difícil encontrar “a pessoa que nos completa”. A frequência com que as pessoas me questionam isso, me fez escrever esse pequeno texto, expondo meu ponto de vista. Eis aqui:

Primeiro preciso começar com uma verdade cruel.

Bem, não acredito que as verdades sejam cruéis... Mas sei que nem todo mundo esta pronto pra certas verdades... o que é cruel.

A questão é: Sinto muito te dizer, mas não existe pessoa que te completa. Desculpe, mas preciso dizer a verdade.

Mas espere! Continue lendo isso, vou me explicar.

Não existe quem te complete, porque você, meu amigo, não é um pedaço de gente. Você não é um quebra cabeça de criança que perdeu a peça que completa o desenho.

Não é a outra pessoa que te completa. Você precisa estar completo, pra quando esta pessoa chegar.

Antes de esperar que alguém te faça feliz, você precisa ser feliz.
Conheço muita gente que encara a felicidade como se ela fosse uma caixinha de surpresa, em que você joga no colo de alguém e espera que ela faça a mágica por você. Mas a felicidade é uma via de duas mãos, e você precisa sair do modo passivo pra que ela aconteça.

Mas de quem é a culpa por essa grande distorção da realidade?

A culpa é da Disney! Sim, meu amigo. A Culpa é toda dos contos de fadas. Somos de uma geração que cresceu em frente a TV  acompanhando os especiais da Disney, cheios de príncipes, princesas e fabulosos “Felizes para sempre”.

Desde os desenhos da década de 80 pra ca, criou-se a ilusão de que a felicidade é esperar alguém que se encaixa em um padrão de perfeição que não existe. A pessoa perfeita é alguém que não existe fora das telas de cinema. Vivemos em um mundo onde as pessoas acordam com cara de urso panda, tem acne, mau humor, são gordinhas ou magras demais e até sorriem com um pedaço de alface entre os dentes.

E enquanto as pessoas procurarem perfis perfeitos continuarão sendo assolados pelo fantasma da solidão.

Conheço gente assim, que se prende a um perfil de falsa perfeição: magreza, sorrisos brancos de gel clareador, rostos esticados, corpo de academia
e coração podre. Essas pessoas que conheço se acomodaram a esse perfil de relação-troféu. É como se elas estivessem sentadas em uma velha cadeira, por muito tempo, sabem que na cadeira tem um prego que a incomoda, mas a pessoa continua ali, sentada, porque estar ali sentado ainda é melhor que ficar em pé. Com o tempo o prego deixa de incomodar e passa a machucar... o machucado sangra, infecciona, mas a pessoa continua ali sentada, sem saber que se ela se aventurar a se levantar, pode encontrar uma cadeira melhor não muito longe dali, e ganhar de brinde um ângulo muito mais bonito da vista.

Uma vez, ouvi de um diácono, pai de uma grande amiga minha, que em uma relação, você não pode pensar: “quero ser feliz com fulano”. Para ele, um relacionamento de futuro é baseado na seguinte premissa: “quero fazer fulano feliz, e ser feliz por isso”. Se cada uma das partes atender a essa simples regra, as chances de um “felizes para sempre” é grande.

Pessoalmente acredito que as pessoas não completam uma a outra. Elas somam. Somam felicidades, momentos, historias. Elas dividem sonhos, anseios e dores. Elas compartilham juntas a vida.

As pessoas somam. E pra ser feliz, você precisa estar disposto a somar... você tem que estar disposto a essa simples matemática da vida, e entender que as vezes a gente erra no cálculo e vez por outra precisa fazer a escolha de subtrair essa pessoa da sua vida... pra logo depois tentar somar novamente... com um outro elemento.

E se mesmo assim, ainda não for a pessoa que soma na sua vida, que ela suma. Pelo menos, você ganha chances de encontrar o seu próprio conto de fadas.


4.10.13

Olhou seus olhos nublados no espelho.
Garoou. 
Uma garoa fina. Silenciosa. Quase um segredo.
Trovejaram-na.
Como se sua garoa não fosse suficiente para desanuviar seu olhar cinzento, virou-se o tempo e tempestoou. 
Choveu-se até inundar sua alma, e afogar velhas mágoas.
Respirou fundo. 

Pingaram outras gotas grossas.
Choveu brando até estiar.
Estiou-se.
E quando tudo ainda parecia cinza, s
orriu um arco-iris.

(Helen Mezoni)

7.7.13

De blog pra blog

é engraçado quando, alguem que voce admira pela escrita, lê algo que voce escreveu e diz que "gostou do teu ritmo".
Parece simples, mas pra mim marcou pra caramba. E hoje de manhã (11h30 é de manhã ainda, se eu tiver acabado de acordar. entendam!) tava lembrando disso.
Eu ja escrevia mas, depois disso, escrever me pareceu certo.
Ai me dei conta que não tinha salvo a postagem dele falando disso.

ta aí. 
http://www.cidadaoquem.com.br/blog/?p=39


15.3.13

AVISO AOS NAVEGANTES... EM BREVE...


Aviso aos navegantes, diria o graaaande Lulu Santos.

Mas bem, anuncio para o pessoal que tem acompanhado a série "Como Nossa História Tornou-se Apenas Um livro" no blog Palavras Soltas (www.helenmezoni.blogspot.com ), uma novidade
boa e uma ruim...

A novidade ruim, é que precisei tomar a decisão de cancelar a série na Parte 15 (publicada na semana passada).

A novidade boa,
é que estou cancelando a série no blog para me dedicar a adaptação da história para um livro que será lançado no segundo semestre de 2013 (ainda não há previsão de quando).

Já está sendo estudado as possibilidades de editoras e distribuição.
A adaptação para o livro terá a importante coordenação de Renata Santos.

É uma decisão e tanto (pra não dizer o primeiro passo pra realização de um desejo antigo: ter um livro meu publicado).

Agora é literalmente:
Mãos a obra.

Conto com a compreensão, torcida e apoio de todos que estavam acompanhando o Blog, que impulsionaram diretamente essa decisão, com todos os acessos conseguidos, e o carinho com que vieram comentar cada publicação.

A todos vocês. 
Muito Obrigada, e até logo. 

=)


12.12.12

PARTE 1 - Como Nossa História Tornou-se Apenas Um Livro


PARTE 1 –  DE COMO NOSSA HISTORIA ESCAPOU POR ENTRE OS DEDOS


Faz seis meses desde então, e já nem me lembro mais como era me sentir feliz. É como se tudo isso tivesse sido há muito tempo. Como se tivesse existido dentro de um sonho bom, que foi interrompido bruscamente pelo som de um despertador qualquer.

Às vezes era assim que parecia.

Pela janela de cortinas cerradas do meu quarto, os dias passavam lentos, e a internet tornara-se minha companheira fiel: Passava dias inteiros fazendo downloads de filmes pra mascarar toda minha dor e solidão. O que parecia ser ironia do destino, já que fora a internet o instrumento que me levara a ter, o que julgara ser, a experiência mais sublime da minha vida. 
Mas hoje isso também parece ter sido há muito tempo...

As recordações me assombram como velhos fantasmas conhecidos: Já não sinto medo delas. Vez por outra, me agarro a elas como única chance de não abandonar o que inevitavelmente se tornou passado.

E assim, também inevitavelmente, as coisas seguem sua ordem. E não estava sendo diferente comigo: quando dei por mim, minha vida havia seguido um rumo não planejado, e contra a minha vontade, eu estava aprendendo a dançar conforme essa nova música.

O barulho da chuva lá fora dita o ritmo da preguiça. O final de semana se espreme por entre o tiquetaquear do relógio. A noite passada me fez relembrar sensações das quais estava me forçando apagar das entranhas de minha memória. Talvez se não fosse aquela música...

Chovia noite passada: forte e impiedosamente. O pára-brisa do meu carro - um pequeno Ford Ka® - tentava em vão melhorar a visibilidade da estrada. As gotas de chuva faziam sombra em meu rosto quando, por ventura, cruzava com algum poste de iluminação. Podia ver as sombras correrem pelo meu rosto pelo espelho retrovisor.

 A estrada estava completamente vazia. Tão vazia quanto minha bolsa, meu estomago e meu coração. O carro, porem estava cheio de um silêncio enlouquecedor e sufocante. Liguei o rádio no intuito desesperado de me sentir em companhia de algo. Após o silêncio ser quebrado pelo som da estática de algumas estações de rádio, ouve-se os acordes de uma música tão baixa que mau se conseguia ouvir. Mudei novamente de estação e o carro foi invadido por uma voz inconfundível. As batidas da bateria no compasso da música pareciam camuflar meu coração descompassado. 

A música era conhecida. A letra havia decorado há muito. Porém meus lábios silenciaram.
Meus olhos viam, porem não enxergavam a estrada. Era como se eu estivesse sob o comando de um piloto automático.
Aquela música havia tomado conta de meu ser, fazendo-me rever um filme já conhecido e tantas vezes repassado.
Quando dei por mim. Estava em frente à garagem de casa, com chuva amena no pára-brisa e lágrimas nos olhos.

Ainda sob o comando do piloto automático, enfio a chave na tranca da porta. 
Trancada. 
Chave errada. 
Mais uma vez, e depois de dois giros a porta se abre. Joguei a bolsa no sofá. Despejei as chaves no aparador próximo da porta. Ainda na sala, tirei as roupas molhadas, fazendo uma trilha com elas até o banheiro.

Durante o banho, tentei me refazer do acontecido. A água quente que saia do chuveiro, enchendo o banheiro de vapor, não era suficiente pra conter meu corpo trêmulo. Minhas mãos ainda estavam geladas, e meu coração apertado. Quanta coincidência em tão pouco tempo!

Do espelho embaçado podia ver um eu que não conhecia: mais velha, madura, mais dura, e com menos tempo pras coisas que realmente me faziam feliz. Um eu que aprendera a viver enxergando em branco e preto. Minha vida havia perdido a cor.

Visto um pijama qualquer e, sem animo para secar os cabelos, deito pesadamente, me afundando no travesseiro, desejando me fundir com a cama.

Tentei dormir, mas foi em vão. Os pensamentos avançavam como ondas sobre a praia. Sentei na cama, apoiando-me em uma pilha de travesseiros. O quarto estava quase totalmente tomado pelo breu, se não fosse a luz artificial emanada de meu notebook a tiracolo.

Fechei os olhos por um pequeno instante que me pareceu eterno. Respirei profundamente enchendo meus pulmões ao máximo, soltando o ar lentamente até ficar totalmente vazio. Repeti isso mais algumas vezes, deixando-me ser invadida por uma avalanche de lembranças, emoções, lágrimas e a decisão de enterrar tudo isso de uma vez.

Há seis meses eu estava elaborando este maldito luto. Estava na hora de finalmente preparar-me para o enterro. Assim, talvez, se tornaria mais fácil seguir a vida sem precisar reviver dia após dias, em minha mente, todas essas lembranças que me faziam sentir pena de mim.

Estava pronta pra escrever um livro, e enterrar de vez essa história.

9.12.12

Carta ao leitor...



Todo mundo, em algum momento, tem - ou já teve - uma história pra contar. 
E quem conta uma história que viveu, já ouviu alguém dizer: “Nossa, se você não estivesse me contando, diria que isso saiu de um livro” ou “essa história daria um livro...”. 

Bem, eu, pelo menos durante as tantas narrações que fiz dessa história, ouvi várias vezes.

Resolvi então fazê-lo - pretensiosamente, ou não.

Divido aqui uma história real, com algumas partes inventadas – O grande triunfo de reverter em letras algo que foi vivenciado, é poder ter a chance de mudar alguns fatos, para melhor ou pior, mas ainda assim transformá-los.

Meu nome é Mahara. Eis aqui minha história:

Preciso avisar que essa é uma historia de amor. Mas não como as historias que, talvez, você esteja acostumado a ler. Os mocinhos, nem de longe, acabam com o tão desejado “felizes para sempre”. Pelo menos não o que, de inicio, desejavam. 
Se essas duas primeiras linhas não agradaram a você, e se você é daquelas pessoas que relutam quando o assunto é chorar, então sugiro que encerre por aqui essa leitura. 
Mas se esta disposto a dividir algumas lagrimas comigo, por algum tempo, sente-se e sinta-se a vontade em saber COMO NOSSA HISTORIA TORNOU-SE APENAS UM LIVRO.

Mahara.